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Um ato por justiça pela morte do empresário Cleriston Pereira da Cunha, mais conhecido como Clezão, foi realizado nesta quarta-feira (22) na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Clezão estava preso na Papuda, por suposta participação nos atos do dia 8 de janeiro, e morreu na segunda (20) durante um banho de sol no presídio.
Centenas de pessoas, entre parlamentares, advogados, pastores, amigos de Clezão e familiares de outros presos, participaram do ato em solidariedade à morte de Clezão e em busca de justiça. “A dor da morte foi maior pela injustiça, porque se Clezão tivesse tido a liberdade provisória, isso com certeza não teria acontecido, e ele nem deveria estar preso”, disse a deputada Bia Kicis (PL-DF), em discurso no ato.
Durante os discursos de abertura, foram feitas várias críticas direcionadas “a inércia e omissão” do ministro Alexandre de Moraes, relator do processos do 8 de janeiro, no Supremo Tribunal Federal (STF), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por não dar andamento aos pedidos de impeachment contra ministros do STF.
“A gente sente muito pela morte do Clezão e essa morte não pode ser em vão. Viemos aqui, em busca de justiça, e a partir de hoje temos que fazer pressão aos senadores para que eles acolham o pedido de impeachment do Alexandre de Moraes”, declarou a deputada Carla Zambelli (PL-SP).
O desembargador Sebastião Coelho conduziu o ato ao passar a palavra aos parlamentares presentes. Para Coelho, “Alexandre de Moraes é o principal culpado pela morte de Clezão, na Papuda” e cobrou do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, uma “atitude” para analisar o pedido de impeachment de Moraes. “Pacheco tem sido omisso no caso dos detidos nos protestos de 8 de janeiro. Ele precisa agir, pelo menos a partir de agora, para afastar Moraes do STF”, disse.
“Moraes vai pagar pelos crimes que cometeu e a gente vai estar aqui para pressionar por isso, é muita injustiça com todas essas famílias. Vamos lutar também para estarmos presentes em todas as sustentações orais”, disse a advogada Gabriela Ritter, fundadora da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de janeiro.
O advogado Ezequiel Silveira informou que após o ato, um grupo iria se dirigir ao Senado para pressionar os senadores pela aprovação da PEC que limita o poder do STF. “Vamos continuar pressionando o Senado, e a população brasileira pode nos ajudar pressionando os senadores, para que eles tomem providências, sobretudo o presidente Rodrigo Pacheco, para que paute o pedido de impeachment de Moraes e tome providências contra as ilegalidades e abusos do poder judiciário”, declarou.
Relatos de familiares dos presos e apoiadores
O ativista político e comerciante Ronaldo Índio, como era conhecido no QG do Exército, em Brasília, era amigo do Clezão. Ele marcou presença no ato por solidariedade e para lutar por justiça, além de pressionar os parlamentares pelo impeachment de Moraes.
“Nós que estávamos no QG, nos tornamos uma família com facilidade, porque parecia que estávamos vivendo em outro mundo. O Clezão estava lá com a gente, sempre com chapéu e um sorriso que contagiava, tinha uma energia positiva e um bom coração, sempre disposto a ajudar as pessoas, com alimentos, carinho e uma boa conversa”, declarou Ronaldo.
Ele também acrescentou que a “morte de Clezão é culpa do STF e do Senado”. “Em especial, do Rodrigo Pacheco que está deitado em berço esplendido, vendo os desmandos do Alexandre de Moraes, com todas suas arbitrariedades e o seu poder de ditador, e simplesmente não faz nada”, acrescentou o ativista.
Rosangela da Costa, mãe de um dos presos do 8 de janeiro que segue agora em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, esteve presente no ato. Com lágrimas nos olhos, ela lamentou a morte de Clezão. “Muito triste o que aconteceu. Fiquei bastante comovida de ver a dor das filhas dele que estudam com a minha filha. Meu filho foi preso injustamente, assim como Clezão, porque entrou para ajudar algumas pessoas no ato do 8 de janeiro, e acabou sendo levado. E nenhuma prova da inocência valeu, ele ficou preso por 7 meses, e agora está com tornozeleira eletrônica, sem poder trabalhar ou estudar, por conta da distância de casa”, disse à Gazeta do Povo.
Rosangela ainda criticou o fato dos Direitos Humanos não ter aparecido em nenhum momento. “Agora é tudo ou nada, vai ter que morrer mais gente?”, declarou.
A aposentada Maria Teresa Guedes saiu do Rio Grande do Sul para acompanhar o ato, e segundo ela, se unir “aos patriotas”. “Acompanhei tudo o que aconteceu e me senti muito culpada por não estar presente, estávamos pedindo uma solução para o país e estamos vendo tudo degringolando no atual governo. Clezão morreu como mártir e pela liberdade”, disse à Gazeta do Povo.